Porque os homens olhavam demais para a sua mulher,
mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar.
Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que
eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos.
Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou todas as jóias.
E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela,
pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.
Agora podia viver descansado.
Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela.
Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que
fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias.
Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.
Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda.
À noite tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar.
Largou o tecido em uma gaveta, esqueceu o batom.
E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.
(Marina Colasanti)
In: Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. P. 111-2.
Revirando meus "guardados" encontrei esse texto.
Nascida na Etiópia, essa "brasileira" instiga nossa capacidade de refletir sobre o mundo e sobre nós mesmos.
Marina Colasanti está entre meus autores preferidos.
Por mero acaso, vi á dias um filme que recomendo vivamente
“O sorriso de Mona Lisa”,
com uma actriz que gosto muito, estou a falar da Júlia Roberts.
O filme poderá não ser do agrado da maior parte dos homens,
a história atrairá muito mais as mulheres, mas recomendo aos homens
para o verem e verem para alem do filme, faz-nos bem ver a alma feminina, e
compreendê-la um pouco melhor. Muitas vezes na nossa vida faz-nos falta encará-la
com um pouco de alma feminina, não entendam isto como homosexualidade, mas sim
com abordar certas situações com uma visão um pouco diferente do normal.
Para quem não perceber o que quero dizer, vejam o filme, para quem perceber, vejam o filme.
e agora …
Escutem a musica meninas…
…Sinto me cansada.
Olho para um espelho e não me reconheço. Não reconheço a pessoa que fui desde que me lembro.
Aquela miúda que desaparece na multidão, que ri sem som para que ninguém a ouça, que chora
escondida para que ninguém a veja…já desapareceu.
Não sei para onde foi, não sei onde a enterraram, onde se escondeu.
Mas aquela rapariga que nascia há alguns meses…que ainda há semanas ria e festejava tudo o que
lhe surgia…também não está aqui quando me vejo ao espelho.
TU fizeste-a desaparecer. TU, com a tua arrogância, com o teu ar de superioridade…e,
apesar disso, com a tua simpatia, com o teu bom humor.
TU, para quem eu olho sem conseguir perceber o que sinto.
TU, com o teu sorriso, com as tuas vitórias.
Olho para o espelho e vejo-me diferente.
Envelhecida. Cansada. Diferente.
Não vou ser mais uma. Recuso-me a ser mais uma.
Até porque mesmo que o quisesse, que o aceitasse…
Para ti…o Meu Sorriso!
Céu
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